Naquele caminhão fechado, bateram pela última vez, os corações de 71 pessoas.
Quatro crianças deram seu último suspiro nos braços de suas mães.
Quando o amor sufoca, já nao resta mais nada.
Naquele dia, o ar de alívio foi o primeiro a embarcar.
Afinal, estando numa rota de refúgio durante dias, ultrapassando obstáculos humanamente inimagináveis, entre terras e mares, viajar de caminhão numa autovia num país seguro beira a definição de viagem de primeira classe para o paraíso.
Chegaram tão longe sem plaquinha de boas-vindas.
E a viagem se encerra bruscamente na autovia A4 da Áustria.
Mulheres, crianças e homens haviam embarcado para a última viagem no deserto na dignidade humana, e beberam a última gota da água da esperança.
A sede se alastrou.
Tantos lagos.
Ficaram os potes vazios de sobrevivência.
E nós acendemos velas, como símbolo de nossa compaixão conosco mesmas. E da necessidade de enxergarmos a luz, para suportarmos a escuridão dos preconceitos que nos consomem.
Mas ainda seguimos respirando normalmente.
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