Naquele caminhão fechado (Entre a madrugada de 26 para 27 de agosto 2015)

Naquele caminhão fechado, bateram pela última vez, os corações de 71 pessoas.

Quatro crianças deram seu último suspiro nos braços de suas mães.

Quando o amor sufoca, já nao resta mais nada.
Naquele dia, o ar de alívio foi o primeiro a embarcar.

Afinal, estando numa rota de refúgio durante dias, ultrapassando obstáculos humanamente inimagináveis, entre terras e mares, viajar de caminhão numa autovia num país seguro beira a definição de viagem de primeira classe para o paraíso.

Chegaram tão longe sem plaquinha de boas-vindas.

E a viagem se encerra bruscamente na autovia A4 da Áustria.
Mulheres, crianças e homens haviam embarcado para a última viagem no deserto na dignidade humana, e beberam a última gota da água da esperança.

A sede se alastrou.

Tantos lagos.

Ficaram os potes vazios de sobrevivência.
E nós acendemos velas, como símbolo de nossa compaixão conosco mesmas. E da necessidade de enxergarmos a luz, para suportarmos a escuridão dos preconceitos que nos consomem.

Mas ainda seguimos respirando normalmente.

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